segunda-feira, 21 de julho de 2025

C'est la vie

 

    Estou aqui para contar uma história, não aquelas que vemos nas séries ou nos filmes, mas uma história de vida, com momentos tristes, de perda, de alegria, de esperança, de frustração, de medo, de coragem, de término e recomeço. Afinal, um francês diria  "C'est la vie" (é a vida), a vida real é assim.


    A minha história começa com a minha chegada à cidade de Macaé, conhecida como a Princesinha do Atlântico. A história da cidade remonta ao século XVII, cuja ocupação inicial se deu, a pedido do governador-geral do Brasil, para fazer frente aos contrabandistas que cobiçavam o pau-brasil, abundante na região. Hoje, é a capital nacional do petróleo, devido à sua importância na indústria petrolífera.


    Toda mudança envolve uma adaptação. A chegada a uma nova cidade é sempre complicada: conhecer os lugares de interesse, novas pessoas, hábitos e costumes locais, sempre tentando estabelecer uma rotina que obedeça às características da nova cidade. Em Macaé, não foi diferente. Pela manhã, corria na orla; a cidade tem praias muito bonitas. Gostava de correr sentindo a brisa do mar e observando as ondas batendo forte na Praia dos Cavaleiros. Depois, iniciava meu expediente. Era o chefe do setor de informática, estava satisfeito com a função, tinha oportunidade de colocar as minhas ideias em prática. À noite, dava aula de informática e orientava os trabalhos de conclusão de curso de uma escola técnica. A escola tinha vários cursos, entre eles mecânica, segurança do trabalho, administração, enfermagem, entre outros. Durante a orientação das monografias, fazia questão de ler todos os trabalhos, orientando os alunos quanto à ordem dos conteúdos e à formatação nas normas da ABNT. Naquele período, tivemos várias apresentações muito interessantes, nas quais os alunos montavam maquetes, ensaios e demonstrações das mais variadas durante a defesa dos trabalhos.


    Uma noite, estava lendo a monografia de uma aluna do curso de enfermagem sobre doenças renais. Algo chamou a minha atenção: percebi que tinha alguns sintomas que ela relatava no trabalho. Conversei um pouco com ela sobre o tema, mais curioso para saber a respeito dos sintomas que tinha observado. No dia seguinte, fui ao médico e solicitei que ele me desse encaminhamento para alguns exames. O primeiro foi uma ultrassonografia. O médico que estava realizando o exame me deu a notícia: “Você tem rins policísticos, precisa procurar um nefrologista”. Até então, não tinha noção da gravidade da doença, mas comecei a ficar preocupado. Na semana seguinte, fui à consulta com o nefrologista e ouvi dele a seguinte frase: “Acabou para você, seus rins irão parar de funcionar, essa doença não tem cura, não posso fazer nada por você.”


    Um chão abriu-se sob mim nesse dia, parecia que alguém rasgava o livro com os meus sonhos e planos bem na minha frente. Um texto de Dante Alighieri ilustraria bem esse momento:

“A metà del cammino della nostra vita

mi ritrovai in una foresta oscura,

perché la strada dritta era smarrita”

“No meio da jornada da nossa vida,

encontrei-me numa floresta escura,

pois o caminho reto estava perdido. “


    Os dias passaram-se e resolvi buscar outras opiniões. Vários médicos repetiram a mesma coisa, porém de uma forma mais humana, mas nenhum conseguia precisar quando, efetivamente, os rins parariam de funcionar totalmente. Tomei uma decisão então: a de viver a minha vida enquanto o momento esperado não chegasse. Foi o que fiz.


    Nos meses que se seguiram, fiz acompanhamento com nefrologistas, mas segui o meu plano de viver. Fui para uma missão a serviço da ONU no exterior, concluí a habilitação em dois idiomas, espanhol e inglês, fui transferido para o Rio de Janeiro, capital, terminei outra graduação e trabalhei com tecnologia da informação, entre outras coisas voltadas para a educação. Fui transferido novamente para Brasília, onde desempenhei uma função de relações internacionais no Ministério da Defesa, um período de experiências muito gratificantes no trato com estrangeiros a serviço no Brasil, com organização de bilaterais, viagens e outras atividades. Depois do tempo no Ministério da Defesa, fui transferido e assumi outra função, dessa vez com desenvolvimento de software.


    Mais algum tempo passou. Ainda acompanhando com a nefrologia, fui informado que tinha que começar os preparativos para iniciar o tratamento de diálise. Infelizmente, várias pessoas, sei que não por intenções ruins, relatavam o conhecimento que elas tinham a respeito do assunto, com comentários como: “Você não vai mais poder trabalhar”, “Você vai passar mal o tempo todo”, “Se quebrar um osso, ele não vai mais se restaurar”, “Você vai ficar muito fraco”. Esses comentários foram criando em mim um sentimento que, em toda a minha vida, nunca sentou para tomar café comigo: o medo. Esse terror e angústia consumiram-me durante algum tempo, até que um dia peguei o meu violão, me tranquei no quarto, comecei a tocar e cantar uma canção. Não consigo precisar quantas vezes toquei essa canção em lágrimas, mas, no fim, era como se ouvisse a letra de uma canção que gosto muito, que em um trecho diz: “I'll always be by your side” (Eu sempre estarei ao seu lado). Era como se o Espírito Santo repetisse isso para mim. Naquele dia, o medo se foi.


    Admito que tentei ignorar a orientação da nefrologia a respeito da preparação para a diálise. Então, um dia, no trabalho, enquanto programava, senti o pior mal-estar que já tinha sentido na vida. Fui levado para o hospital e, chegando lá, fui preparado e começou o tratamento dialítico.


    Enfim, a notícia que tinha recebido anos atrás tornava-se realidade. Estava em diálise, três vezes por semana, quatro horas cada vez. Sou grato a Deus que encontrei na equipe do Hospital das Forças Armadas pessoas comprometidas, profissionais de excelência, humanos fantásticos, que entendem a nossa situação e fazem de tudo para que passemos por isso da forma mais confortável possível. Na vida, momentos alegres e tristes revezam-se à nossa frente, mas o que vai falar mais alto e te atingir com força é aquele que você deixa dominar mais. A minha decisão, mais uma vez, foi a de viver. Continuo trabalhando, terminei mais uma pós-graduação, estou aprendendo um idioma novo, o italiano, tenho seguido ao lado da minha família, que sempre me apoiou e é meu porto seguro. Sou o líder do louvor da Igreja Metodista da 906, acredito que a minha fé tem me ajudado a enfrentar toda essa situação. Vou à academia praticamente todos os dias da semana e faço todo tipo de treino. Não tem sido fácil, e às vezes a tristeza de ficar quatro horas preso a uma máquina bate forte, mas lembro que tenho mais motivos para seguir em frente e continuar vivendo. O meu conselho para você que dedicou o seu tempo para ler até aqui: “Solo se vive una vez, pero si lo haces bien, una vez es suficiente” (“Você só vive uma vez, mas se fizer direito, uma vez é o suficiente”). Essa é a vida que você tem para viver: levante a cabeça, lute, tenha coragem e viva-a bem.


segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Novos começos

 


Novos começos.

                      Se você já esteve aqui antes, deve estar sentindo falta das postagens antigas, então, resolvi remover todas as postagens e começar novamente, a dinâmica da internet não deixa muito espaço para postagens antigas, a não ser as que versam sobre assuntos históricos, ainda assim, no Brasil até o passado é incerto, a ideia do blog é continuar tratando assuntos como música, desenvolvimento de sistemas, viagens, leituras, idiomas e outros assuntos interessantes, tendo em vista o ambiente colaborativo da internet, também quero deixar a minha contribuição nesse universo de informação, ao menos uma gota no oceano. 


C'est la vie

       Estou aqui para contar uma história, não aquelas que vemos nas séries ou nos filmes, mas uma história de vida, com momentos triste...